Thursday, June 27, 2013

IAMCR: Discurso político sobre a crise do Euro em Portugal usa governo alemão como bode expiatório

Comunicação estratégica do governo não pode controlar debates na esfera pública europeia
O discurso mediatizado da crise do Euro em Portugal usa as políticas e atores do governo alemão como bode expiatório. Esta é uma das conclusões a que chegou Evandro Oliveira, investigador do Centro de Estudos de Média e Sociedade da Universidade do Minho, depois de ter estudado o discurso mediatizado em torno de acontecimentos chave da crise do Euro. O estudo foi apresentado publicamente hoje na Irlanda e desenvolvido em conjunto com Jens Seiffert, da Universidade de Leipzig; e Birte Fähnrich da Berlin University for Professional Studies.

 "Enquanto na discussão pública na Irlanda foram apresentadas as posições dos vários partidos alemães e explicadas as lógicas por detrás de cada uma, em Portugal as medidas foram apenas mencionadas, por vezes "diabolizadas" e comunicadas como factos consumados, mesmo que as mesmas ainda não fossem consensuais na esfera política Alemã", explica Evandro Oliveira. "Isto não exclui que as políticas alemãs também tenham sido criticadas na Irlanda", adverte o Investigador. "O que esta análise denota é uma discussão pública portuguesa enfraquecida, reforçando conjunturalmente fenómenos que podem ser lidos como o uso, por vezes estereotipado, do governo, políticas e do povo alemães como bode expiatório; para além de uma subjugação dos mesmos a uma agenda política própria em Portugal", sublinha Evandro Oliveira.

O estudo "Comunicação governamental e a crise do Euro: Estratégias nacionais e cobertura mediática" foi apresentado hoje em Dublin, Irlanda, no maior congresso mundial académico de investigação em média e comunicação da IAMCR. (International Association for Media and Communication Research) e teve um enfoque na crise do Euro e as estratégias de comunicação do governo alemão e o seu sucesso em enquadrar a agenda publica na Irlanda e em Portugal, dois países fortemente afectados durante a crise do Euro.

 "Mesmo quando as propostas de instrumentos económicos foram fruto de reuniões conjuntas com Nicolas Sarkosy, nunca assistimos a ataques nominais ao presidente Francês em Portugal. Contudo, a chanceler Angela Merkel foi várias vezes usada como bode expiatório nos comentários políticos portugueses da direita à esquerda, à excepção de um artigo que revelava esta mesma tese", acrescenta Oliveira.

O estudo propõe como leitura dos resultados que o governo alemão não conseguiu enquadrar os debates na Irlanda e em Portugal, sugerindo a existência de fortes culturas de discurso nacionais, agendas politicas distintas e diferenças nas situações económicas e sistemas mediáticos na esfera pública Europeia. Estes factores revelam-se em formas marcadas e, de acordo com os cientistas, consequentemente indicam que o enquadramento dos discursos nacionais na esfera pública europeia não podem ser controlados por comunicação estratégica governamental.